A fraude em alimentos (food fraud) é um problema mundial que se caracteriza pela criatividade dos criminosos e, por consequência, pela constante atualização das técnicas de detecção por parte dos que a combatem.
Infelizmente é um jogo de gato e rato!
Devido a isso, sua gestão de ‘food fraud’ deve ser constantemente revista e atualizada, muito mais do que o seu sistema APPCC, já que o seu processo produtivo muda com muito menos frequência.
Para quem não sabe o grande marco do combate da fraude em alimentos foi o escândalo da carne de cavalo em produtos de carne bovina na Europa em 2013. Outro grande caso que expôs a complexidade dessa luta o escândalo do Fipronil nos ovos.
Definir fraude é muito importante e segundo a FAO (Food and Agriculture Organization of the United Nations) a fraude alimentar é “comumente descrita como qualquer ação intencional suspeita cometida quando um operador de negócio de alimentos decide intencionalmente enganar os clientes sobre a qualidade e/ou conteúdo dos alimentos que estão comprando para ganhar uma vantagem indevida, geralmente econômica para si mesmos”. Embora esta seja uma definição comum, muitas outras podem ser encontradas.
De qualquer maneira uma fraude é um crime e há diferentes tipos de fraudes em relação ao seu impacto na saúde humana:
- Fraudes que não causam danos à saúde: por exemplo, a adição de açúcar comum no mel natural, camarão com gel de grau alimentício para que pareçam maiores e mais pesados, vender carne comum como de ‘Wagyu’, vender produtos orgânicos sendo na realidade produtos comuns, pó de madeira misturado no coentro, vender produtos não-Halal como Halal, entre outros;
- Fraudes que causam danos à saúde: por exemplo, a adição de melamina em fórmula infantil, produtos químicos perigosos diluídos no leite, álcool tóxicos diluídos em bebidas alcoólicas, entre outros;
- Fraudes que ameaçam indiretamente a saúde: por exemplo, quando a qualidade nutricional dos alimentos não é o prometido devido ao uso de ingredientes de baixa qualidade, ou seja, roubam do consumidor os benefícios para a saúde pelos quais eles pagaram.
Antes de seguir adiante, é importante também desmistificar que a fraude alimentar esteja relacionada somente a países pobres! Isso não é verdade.
Obviamente, o “empobrecimento” de um país devido a uma forte crise econômica impacta no aumento de probabilidade de fraudes. Por exemplo, o crescimento da alimentação realizada via internet ou através de aplicativos de entregas em domicílio (‘deliveries’) vem crescendo nos últimos anos. Em um país com uma alta inflação, com o crescimento do custo de produção (matérias-primas mais caras) e entrega (aumento no valor da gasolina) aumentam os riscos de fraudes por empresas criminosas.
Por outro lado, quando há um aumento do poder de consumo da população de um país, há também um crescimento da demanda por alimentos de qualidade superior (‘premium’) ou exóticos. Como esses produtos têm um valor agregado maior e a sua cadeia de fornecimento está cada vez mais globalizada, há um aumento da probabilidade de fraudes. Por exemplo, consumo de caviar, frutos do mar, vinhos, carnes vermelhas nobres e etc.
- Há dados que comprovam que fraudes em alimentos estão relacionadas tanto a países chamados de ‘desenvolvidos’ (ou simplesmente países “ricos”), como em países ‘em desenvolvimento’ ou ‘subdesenvolvidos’ (países “pobres”). Vejam abaixo os dados dos países de origem dos produtos mais notificados via sistema*:
o Espanha: 33 notificações, seguidos por
o Itália: 31
o China: 22
o Holanda: 19
o Polônia e Grécia: 16
o Reino Unido: 14
o Alemanha: 11
o Turquia: 10
o Índia: 9
o Vietnã: 8
o E na América do Sul: Brasil (1), Argentina (2), Peru (1), Equador (4), Suriname (1)
*Nota: informações do sistema AAC-FF (Sistema de Assistência Administrativa e Cooperação para Fraudes Alimentares) da Comunidade Européia.
Em geral as normas reconhecidas pelo GFSI (‘Global Food Safety Initiative’) possuem requisitos muitos básicos para um sistema de gestão de riscos de fraudes e que está focado em uma boa gestão de fornecedores partindo do pressuposto que a empresa produtora de alimentos auditada (certificada) é uma empresa idônea e ética. Essas organizações devem possuir uma adequada avaliação de riscos que considera alguns aspectos, como:
- Uma pesquisa em base de dados de fraudes confiáveis para avaliar o histórico externo de casos relacionados com uma determinada matéria-prima;
- Fatores econômicos do seu país e do país de origem das matérias-primas;
- Facilidade de acesso dentro da cadeia de abastecimento, ou seja, o risco aumenta se eu compro de intermediários, ao invés de adquirir diretamente do fabricante da matéria-prima;
- Sofisticação de testes de rotina para identificar adulterantes, ou seja, existem mais recursos e o custo é menor para detecção de fraudes em leite do que comparado com o mel de abelha;
- Natureza da matéria-prima: existem algumas que possuem um alto valor agregado e são mais fraudadas que outras pela facilidade da sua própria natureza.
E por fim exigem que, quando a matéria-prima tiver um risco de adulteração ou substituição considerável para a organização, esta deverá implementar um processo apropriado e/ou análises/testes para mitigar os riscos identificados.
Mesmo com os requisitos incluídos nessas normas reconhecidas pelo GFSI e por ações antifraudes, como a recente notícia da maior operação de destruição de azeite de oliva fraudado já realizada no país pelo Ministério da Agricultura em conjunto com a Polícia Civil (link), isso ainda é pouco!
Quer saber mais? Conheça o complexo mundo da fraude em alimentos (food fraud) e ações necessárias para sua mitigação, que vão muito além dos requisitos das certificações reconhecidas pelo GFSI e necessita da cooperação e investimentos de outras partes interessadas acessando meu post no Portal e-Food (link).
By Maurício Kamei
Para saber mais entre em contato e se informe sobre nossos treinamentos in-company de Food Fraud.
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